- Rafael K. B. Czarnobai
Vínculo e Afetividade
Neste texto pretendo compartilhar com vocês leitoras e leitores, os aprendizados com a Psicodramatista e Dr. Maria da Penha Nery de Brasilia, autora do livro Vínculo e Afetividade.

Vínculos e Amor*
No vínculo amoroso nos completamos e nos refazemos em nossas histórias. Vivemos mais diretamente a árdua tarefa que culturalmente nos ensinam, ou a qual nos submetemos, a todo custo: precisamos ser amados "sempre" ou "por todos". Cada um de nós percorre esse aprendizado, cria lógicas afetivas e realiza os projetos dramáticos associados ao alimento psíquico do amor romântico. Esse amor também revela as tramas e traumas das primeiras e primárias histórias afetivas. Nessa histórias registramos conteúdos e momentos vividos, em realidade ou em fantasia, que influenciam nosso jeito de amar. Algumas vivências que sofremos, com maior ou menor preponderância de uma delas, são: -> ter tido amor num desenvolvimento com preponderância de vínculos que proporcionam um clima afetivo propício ao crescimento emocional. Houve, por exemplo, aceitação, compreensão,colaboração,limites, participação, definição de papéis com diferenciação do eu e do outro. Nesse contexto, os conteúdos e as dinâmicas dos vínculos podem ser internalizadas dimensionando adequadamente o amor-próprio, o amor do outro e pelos outros;
-> ter dito amor condicional em um desenvolvimento impregnado de exigências e anulação do outro como ele é, de ameaças de danos ao eu e de modelos agressivos. Esse contexto pode propiciar a internalização de aspectos do vínculo que criam aspectos de falso amor-próprio, que contêm lógicas afetivas de conduta, tais como: "Só sendo forte, sou aceito" ou "Demonstrando minha esperteza, terei admiração". E podem desenvolver outras autoexigências, que causam grandes dificuldades na doação e na recepção de afeto;
-> ter tido desamor - um desenvolvimento com clima afetivo carregado de desamparo, abandono, rejeições, abusos sexuais, violências físicas ou psíquicas com críticas, ameaças, muitas carências e frustrações permanentes podem acarretar vínculos residuais manifestados na inexistência de amor-próprio e pelo outro na dependência afetiva patológica;
-> ter dito desamor- amor (ambivalência) - em seu desenvolvimento em dinâmicas repletas de competições sociais envolvendo condutas simuladas ou incongruentes com os sentimentos, tais como: pegar no colo a criança que quer atenção, mas, ao mesmo tempo, falar com alguém, atender um pedido do adolescente com tristeza e se queixar de que não consegue colocar limites. Tais dinâmicas vinculares tendem a produzir a internalização de vínculos associados a instabilidade e a insegurança em relação ao amor-próprio e pelo outro.
Assim, o "eu ideal" aprende a buscar o "outro ideal", que complete o vazio de sua existência. Buscamos, desesperadamente, complementações de papéis que provoquem encanto e magia. O outro é idealizado como alguém que nos trará a felicidade, a todo instante e para sempre. Nesse movimento vincular, a "criança interna ferida" de cada um de nós busca o outro como a tábua de salvação dos traumas, aquele que a resgatará da dor profunda da solidão, do abandono, da violência, da autoalienação e das situações que ficaram mal resolvidas, mal vividas.
Nossas histórias familiares criam alguns mitos sobre o amor romântico:
-> " o amor ideal não existe" - Complementando por ideias rígidas de que nascemos sós e morremos sós; somos seres individuais; o outro só me causa problemas; eu sou eu e o outro é o outro, não dependo de ninguém.
-> " Vou encontrar minha alma gêmea" - Complementado por ideias rígidas de que eu e o outro somos um; o outro me satisfará sempre; o outro é tudo para mim e me completa...
O trabalho permanente de nossos vínculos nos ajuda a: aprender a "apenas Ser", ao relativizar a dependência do outro para conquistarmos o bem-estar; aprender com os conflitos; superar as condutas dissimuladas; e conquistar mais eficiência na comunicação, autenticidade e respeito mútuo. Assim a relação amorosa pode ser viabilizada com um espaço de crescimento, expressão de quem cada um é ( o seu Si-mesmo), e usar das crises para amadurecer está relação e assim ambos desenvolverem criatividades nesta relação, que alimenta a intimidade e a (com)paixão de um EU-TU que torna-se um NÓS, para o encontro possível de um já não mais tão idealizado, mas de respeito, confiança e maturidade um amor de co-responsabilidades. * Os trechos do texto acima são partes do livro da autora Maria da Penha Nery e adaptados por mim.